quinta-feira, 6 de março de 2008

Pelo menos Algo o garoto sabe

Reza a lenda que, ao passar na porta de algumas faculdades e universidades particulares basta que deixe seu documento de identidade cair na porta que irão te ligar pedindo que efetue sua matrícula.
Bem, aconteceu algo mais ou menos igual a isso. Um menino de oito anos (veja o naipe na foto ao lado) conseguiu aprovação no vestibular de Direito da Universidade Paulista-UNIP.
Marcou o vestibular agendado, foi fazer a prova e passou.
Acontece que João Victor agendou seu vestibular. Como assim, agendou? Escolheu data e horário para fazer a prova. Chegou aos laboratórios de informativa da UNIP, mas se a prova é para Direito, porque ele foi ao laboratório de informática? É que o vestibular agendado é feito em computadores da Universidade. Às vezes sozinho, às vezes tem mais alguém fazendo a prova, mas nunca tem ninguém fiscalizando.
O menino tirou onda ainda, "A redação foi fácil. Quem não consegue escrever um texto com base numa matéria que saiu na imprensa?”. Sua redação sequer foi corrigida. Já estamos em Março, dia 6 para ser mais exato, as aulas com certeza já começaram, pois não é uma instituição pública para que as aulas comecem sempre atrasadas. Então, sobrando vagas, qual a solução adotada? Dar essas vagas a quem quer. Onde foi o caso do garoto de 8 anos de idade. A faculdade deveria ter um método mais criterioso de fiscalização, para evitar cometer essas gafes em público.
A mãe afirma que irá brigar na justiça para ver o “direito” de seu filho de freqüentar as aulas valer. E o menino afirmou que irá conciliar a faculdade com o colégio.
O que vem a ser discutido não é nem a capacidade do garoto em passar no vestibular, mas como esse garoto irá se portar caso consiga realmente na justiça o “ingresso” para que possa freqüentar normalmente as aulas. Como a mãe mesmo afirmou, o menino é criança normal, sem nenhuma superdotação, e a criança afirmou isso também. Acho que tudo tem seu tempo, e um garoto com essa idade não teria maturidade para enfrentar uma sala de aula de faculdade.
O que a mãe tem que observar não é o fato da criança ter conseguido passar, mas caso ele comece o curso, irá conciliar, segundo ele, o curso de manhã e a escola à tarde, e ao mesmo tempo em que ele estará com pessoas adultas, com uma cabeça totalmente voltada para coisas reais, estará no meio de crianças que querem brincar, correr, pular, e até chorar. O que aconteceria seria um pinel na cabeça dela. E no final das contas sairia da faculdade sem ter um pingo de noção, pois o que é estudado dentro de qualquer curso superior não é algo fácil de se aprender, não iria conseguir assimilar as coisas faladas dentro de sala de aula à sua realidade, ao seu mundo.
Não teria com quem discutir, pois em uma universidade, um menino de 8 seria tratado como um menino de 8 anos, e mesmo que formasse algum senso crítico, seus colegas de 5° ano iriam entrar em alguma acalorada discussão com ele?
E por final, não aproveitaria nem a infância, nem a faculdade. Ele não cursaria realmente uma faculdade.
Tudo tem seu tempo. A menos que essa criança seja superdotada, não é saudável a ela que consiga essa vaga, além do mais, nem aqueles que estão cursando o ensino médio conseguem na justiça adentrar na faculdade, alguém que sequer terminou o ensino fundamental é bastante inviável que consiga, mas ninguém sabe como Juiz pensa não é mesmo?
Mas o assunto a ser discutido realmente não é a capacidade ou não do garoto, mas a capacidade ou não dos processos seletivos das universidades e faculdades particulares.
Nas escolas e colégios particulares, e em cursinhos pré-vestibular, o que se houve dizer primordialmente é “você deve passar em uma faculdade pública, pois é vergonhoso estudar na particular”, “faculdade pública é tudo”, “estamos te preparando pra passar em uma faculdade pública, agora se você não quiser estudar vai prestar numa particular que você passa, aí pode ficar em casa à tôa”, basicamente, o que estão querendo dizer é, “se você não passar na faculdade pública não tem propaganda pra gente, sem propaganda a gente não ganha dinheiro, você faz, passa e a gente racha de ganhar dinheiro em cima do seu nome porque você passou na pública, aí se você não passar a gente te dá uma bolsa pra você fazer um cursinho com a gente e ir dando dinheiro pra gente até conseguir passar na pública, para aí sim a gente fazer propaganda com seu nome e ganhar mais dinheiro em cima de você, seu otário”.
Escolas e cursinho não estão nem aí com a qualidade de ensino que o aluno terá, querem eles em universidades públicas, pois é chamativo de mais alunos para eles. Colocam autidóres com letras garrafais indicando os aprovados preferencialmente em cursos de medicina e quando são os primeiros colocados, qualquer curso que seja, pois foi o primeiro e é propaganda para eles.
O que é questionado nas instituições de ensino particulares é o vestibular, que todo mundo alega ser fácil, e por conta disso o curso não presta.
O aluno muitas vezes tem condições de estudar em uma faculdade particular, mas por preconceito, acredita que estudar em instituições públicas é melhor.
Mas é como em todo lugar, tanto nas públicas, quanto nas particulares há as boas e as ruins, mas em geral, as instituições de ensino públicas não tem dinheiro para pagar professores, comprar materiais necessários e criar bibliotecas farturentas. Do lado das instituições particulares, há aquelas, como a Unievangélica, por exemplo, que visam o lucro acima de tudo, para os alunos é ligado o “foda-se”, se você está com um professor incompetente, como a grande maioria dentro da instituição, percebam que estou falando do caso concreto, e o caso concreto é a Unienvagélica, vai estudar em casa, porque a instituição diz “eu não posso fazer nada, o dinheiro que eu tenho não é pra gastar investindo no corpo de professores da instituição, mas para construir túneis superfaturados e gastar comigo, você aluno não representa nada pra mim além de uma fonte de lucro, vocês são minhas galinhas dos ovos de ouro, e eu não posso fazer nada por vocês”.
Mas de toda forma, o ensino superior “banalizado” como está hoje é bom para a sociedade. Bom para o próprio país. Pois aumenta a competitividade dentro do mercado, e traz mais qualidade dentro dos serviços oferecidos ao público.
O diferencial antigamente era apenas ter um curso superior, e nessa lógica prevalecia o fato de que eram pesadas as universidades onde os aspirantes ao emprego haviam se formado, se for pública já entrava ganhando de goleada, e com tudo mudando, ainda há mentes pequenas que pensam da mesma forma. O diferencial hoje não é apenas possuir um curso superior, pois quase todos possuem, o diferencial é possuir mais de um curso superior, ou uma pós-graduação, mestrado, doutorado. E até especializações hoje estão fáceis de conseguir cursar.
A faculdade particular tem um diferencial da faculdade pública. A faculdade particular “permite” a entrada de qualquer um, haja vista que em instituições públicas quem não estiver com a cabeça fervilhando de matérias lançadas no ensino médio, familiarizado com aquilo, como se fosse algo que irá fazer parte de toda a sua vida, não consegue uma vaga lá dentro, ao contrário das instituições particulares, que por quererem vender o produto, querem quem quer que seja lá dentro.
A heterogeneidade é muito grande, e, por conseguinte, ganha-se mais experiência em uma faculdade particular. Há alunos da faixa etária de 17 até 60 anos, pelo menos o máximo que já vi, mas com certeza existem pessoas mais velhas.
Há aqueles que dizem que querem apenas ter o diploma, pois trata-se de um sonho antigo e agora há como realizá-lo, pois está com a vida estabilizada, os filhos formados, e podem investir neles mesmos. Há aqueles que almejam apenas saber um pouquinho mais, ou ganhar um pouquinho mais, pois o diploma de curso superior lhe traria um pequeno incremento ao salário no final do mês. Há aqueles que sonham longe, geralmente os mais jovens, sonham alto, querem um futuro brilhante. Há aqueles que não querem nada com nada, gostam mesmo é da festa, da farra, da curtição que é a faculdade. Há aqueles que caíram de pára-quedas por lá. Há de tudo.
Já estudei com prefeito, com médico, com veterinário, com policial militar, com muçulmano, com maconheiro, com quase freira, com homossexual, com quem viajou toda Europa, com oficial de justiça, com aposentado por invalidez, enfim, com todo tipo de gente.
Ledo engano daquele que acha que irá ser escolhido apenas por ter cursado uma faculdade pública, pois no final das contas e faculdade não será nem analisada, pois o que conta é o depois, a faculdade, seja ela pública ou particular, serve só para te alavancar para opções melhores.
Ademais, no caso de um curso de Direito, o leque de opções que é aberto por meio de concursos, o caso da faculdade cursada não causa interferência alguma, pois você precisa saber, e não cursar uma faculdade diferenciada.
E como não poderia deixar de ser, lá vem a OAB, que ultimamente anda com muito medo dos advogados novos tomarem os postos daqueles que lá estão, e onde vê uma brechinha vai lá chorar.
Querem mais fiscalização nos cursos de Direito, para que qualquer um não entre. Advogado é uma raça tão infeliz, que se acha o melhor do mundo, e com certeza imaginam que todos que cursam direito querem ser advogados, o próprio garoto de 8 anos já afirmou que sonha em ser Juiz Federal.
Toda essa ânsia dos estudantes de Direito em tirar a “carteirinha” de advogado, é devido à emenda constitucional n° 45 de 2005, que obrigou, a qualquer um que queira prestar um concurso para Juiz ou Promotor, a ter 3 anos de experiência na prática jurídica, e o caminho mais fácil para essa prática é a advocacia.
A OAB, que segundo Miguel Ângelo Cançado, presidente da seccional de Goiás, é a “instituição civil mais forte desse país”, tem um lobby muito forte dentro do congresso, e poderia muito bem passar uma nova emenda revogando tal dispositivo, ou tentar declará-lo inconstitucional frente uma ADIn.
Decerto pensam que mantendo dessa forma daqui alguns anos acabam os Juízes e Promotores, e aí eles poderão fazer a festa dentro do Judiciário.

3 comentários:

JLM disse...

Imagine esse garoto assistindo a aula de Direito Penal e tentando entender que estupro é "a introdução do órgão peniano na cavidade vagínica" sem o consentimento da vítima.

Vai por mim, a faculdade fará mais mal ao garoto do que bem. Este episódio por si só já o está afetando, vi ele hoje cedo lá em SP na Record com a família dando entrevistas de como ele é gênio. Pára, né. Super exposição de algo que não existe. O moleque vai crescer se achando o Einstein. É capaz até de receber algum prêmio de honra ao mérito em Brasília dado pelo Lula.

Basta aprender a apertar botões num teclado e escrever o "Atirei o Pau no Gato" que qualquer um passa lá. Agora tem gente querendo colocar seus filhos de 4 anos pra fazer o próximo vestibular na Unip, só pra aparecer na mídia.

Bando de idiotas. Tanto a faculdade quanto os pais. O menino não. Infelizmente ele ainda não tem consciência de que está nesse papel. E se puxar aos pais, talvez nunca tenha.

1 abraço.

JLM disse...

kkk, pelo menos antes foi de 7x2.

7x0 ninguém merece...

meus pêsames.

Anônimo disse...

Aí... então.. eu li e agora vou comentar!
Hehehehehehe
Prepare-se!!!

Gostei do seu ponto de vista e tenho a mesma opinião sobre o garoto da faculdade. Aliás, isso foi um fato ridículo que só veio a denegrir a imagem das universidades particulares e seus vestibulares que nem mais deveriam existir. Mas, a culpa maior disso, logicamente, é do Ministério da Educação que muito ineficiente fiscaliza a abertura de novas unidades das faculdades, os cursos e muito menos os vestibulares.
Acontece que os alunos entram para as particulares tão despreparados que mal conseguem ser aprovados no primeiro semestre.
E ae a questão é, não é mesmo verdade que qualquer um consegue passar no vestibular da universidade particular?
Bom, tenho uns toques de jornalista para dar-te. Hehehehehe
Nos hablamos después.
Hasta la vista.